Ir direto para menu de acessibilidade.

GTranslate

ptenes

Opções de acessibilidade

Início do conteúdo da página

Área de concentração e linhas de pesquisa

Publicado: Segunda, 23 de Outubro de 2017, 10h11 | Última atualização em Segunda, 19 de Abril de 2021, 14h17 | Acessos: 4004

Área de concentração

O mestrado em História da Unifesspa tem área de concentração em História e Cultura na Amazônia. Nessa perspectiva, as pesquisas são desenvolvidas no sentido de problematizar a construção política, social e cultual – portanto históricas – das experiências vivenciadas por diferentes atores no espaço historicamente construído e denominado de Amazônia. Por conseguinte, as pesquisas produzidas a partir dessa área de concentração, contribuem de maneira propositiva para problematizar e desconstruir uma imagem consolidada de que a Amazônia é livre da ação histórica.

A área de concentração, portanto, é – por excelência – um espaço produtor de conhecimento histórico e historiográfico e se constitui como campo estratégico para que se analise e compreenda a diversidade cultural e a formação histórica dos diversos grupos sociais que compõem a paisagem humana da Amazônia. Por conseguinte, as experiências desses grupos, desdobradas em diferentes estratégias e táticas de enfrentamentos, disputas, combates, alianças e negociações são objetos privilegiados das pesquisas desenvolvidas. Por meio da experiência de atuação dos docentes, temas como Amazônia colonial, escravidão e abolição na Amazônia, populações indígenas e de origens africanas na Amazônia, migração, ditadura militar na Amazônia, conflitos sociais, narrativas, memórias, trajetórias de vida, saber escola, narrativas didáticas, livros didáticos, ensino de história, formação docente (pois uma das linhas é sobre Ensino de História) são objetos privilegiados de estudos.

A Amazônia é um espaço privilegiado pela diversidade étnica de diferentes grupos que disputam a construção desse espaço historicamente construído. Entre as etnias indígenas, segundo a Fundação Nacional do Índio (Funai), que habitam o espaço da Amazônia no estado do Pará, encontram-se Gavião Parkatejê, Parakanã, Kayapó, Suruí, Parakanã, Suruí do Pará, Araweté, Arara do Pará, Kaiabi, Kuruáya, Asurini do Tocantins, Amanayé, Arapiun, Suruí de Rondônia, Tembé, Guarani Kaiowá, Karajá, Asurini do Xingu, Guarani Mbya, Yudjá, Mundurukú, Kaxuyana, para citarmos apenas algumas. Devemos ainda ressaltar que esse “caleidoscópico” de culturas é ainda mais amplo e diverso, pois mencionamos aqui somente uma parcela de povos indígenas que se encontra apenas no estado do Pará. Entres os povos de origens africanas, socialmente denominados de quilombolas, há também presença marcante na Amazônia. De acordo com as pesquisas do Laboratório da Nova Cartografia Social da Amazônia – laboratório que conta com a participação de professores/pesquisadores da Faculdade de História da Unifesspa, as comunidades Quilombolas de Monte Alegre, Quilombolas de Jambuaçu, Ramanescente de Quilombolas do Rosa, Quilombolas do Forte Príncipe da Beira e Quilombolas Atingidos pela Expansão do Dendê no Pará, encontram-se entre os grupos que também disputam o processo de construção da Amazônia.

Neste sentido, a área de concentração História e cultura na Amazônia permitirá a construção de um conhecimento no campo da ciência histórica acerca da chamada Amazônia brasileira problematizando-a em diferentes perspectivas temáticas. Por extensão, as pesquisas contribuirão para compreender a dinâmica das relações de poder, dos conflitos em torno de interesses de ordenamento social e de domínio territorial envolvendo, notadamente, redes do grande capital (agronegócio, mineração, hidronegócio) e diferentes grupos sociais (camponeses, indígenas, extrativistas, quilombolas e segmentos diversos de trabalhadores rurais e urbanos etc.). Esses últimos, constituindo uma sociodioversidade, são geralmente considerados empecilho ao desenvolvimento quando não aceitam passivamente submeter-se ao projeto de acumulação concentrada de capitais.

Acreditamos que as pesquisas desenvolvidas no mestrado em História acerca das experiências vivenciadas em diferentes tempos e espaços que historicamente construíram e constroem a Amazônia, contribuem também para a construção de outros discursos e explicações que representam e (re)criam a Amazônia Brasileira. São, portanto, análises que produzem outras narrativas no que tange ao discurso amplamente divulgado em defesa dos projetos políticos ligados ao capital internacional. Projetos esses, que resultam em um reordenamento social e afeta drasticamente a vida cotidiana de milhares de homens e mulheres. Nessa dimensão, entender e explicar essas relações histórico-social por meio do estudo de diferentes temáticas, são objetivos que permeiam a proposta de implantação do mestrado acadêmico em História na Unifesspa.

A área de concentração estará dividida em duas linhas de pesquisas, de modo a atender as singularidades e as demandas do público alvo. A Linha 1 denominada Cultura, Memória e Relações de Poder e Linha 2 Ensino de história, narrativas e documentos. Portanto, também serão investigados objetos de pesquisa ligados ao campo do ensino de história.

 

Linha 1 - Cultura, memória e relações de poder

Permeada pela multiplicidade de fontes e interpretações, a narrativa na história requer a mobilização de instrumental teórico e metodológico para sua constituição. Debater os conhecimentos ligados à teoria e à metodologia em suas relações com a pesquisa e a escrita no campo da História, demanda compreender dimensões de cultura, memória e as relações de poder que envolvem os processos históricos, suas disputas e interesses.

Aportados em experiências vivenciadas pelos sujeitos históricos no quotidiano, dimensionamos lutas, embates e disputas enquanto dimensão política de distintos atores (Certeau). Embasados em fundamentos teórico-epistemológicos acerca das categorias analíticas de tempo, memória e cultura, analisamo-las como construções históricas. Articulados à área de concentração em História e Cultura na Amazônia, estabelecemos aproximações e distanciamentos acerca das experiências historicamente construídas nessa região, em consonância a reflexões e pesquisas no campo da produção acadêmica da História.

Nesse movimento analítico autores como Paul Ricoeur, Reinhart Koselleck. Henry Rousso, Christian Delacroux e François Dosse são referências mobilizadas para ampliar as discussões. François Dosse também tem contribuído com o debate acerca do processo constituinte da narrativa na ciência histórica. No que tange a essa problemática, a discussão permite o diálogo também Peter Burke, François Hartog e Jörn Rüsen, este último também contribuindo com as reflexões sobre cultura. Também fazem parte das discussões propostas as reflexões promovidas pelo filósofo Michel Foucault no que tange às relações de poder como força concorrencial das práticas políticas, sociais e históricas. Devemos ressaltar, todavia, que essas reflexões não encerram o debate sobre as referidas categorias analíticas nas disciplinas obrigatórias e optativas. Elas se fazem presentes e são também compartilhadas com outras reflexões inseridas na própria dinâmica de execução dos componentes curriculares.

Com recorte temático em Cultura, memória e relações de poder na Amazônia, a presente linha de pesquisa almeja promover reflexões no que tange a distintos movimentos, mobilizações, saberes, fazeres e modos de ser e de estar no mundo.

Enfatizando estudos acerca de disputas e relações de poder que concorreram e concorrem para a construção histórica e social da chamada Amazônia, procuramos problematizar os mais diversos objetos de investigação, por meio do estudo de suas singularidades no tempo e no espaço onde se constituíram. Em outras palavras, as práticas culturais de homens e mulheres que configuram o espaço socialmente construído da Amazônia, pretendem ser apreendidas e analisadas como construções históricas. Nesse processo de produção historiográfica, a memória constitui foco privilegiado de estudo, seja como objeto, seja como documento para as pesquisas.

A Amazônia concentra um dos maiores índices de conflitos sociais e políticos da história do Brasil, portanto, a temática não poderia passar despercebida das preocupações de estudo de um mestrado em História. Temas ligados aos povos da floresta, às populações ribeirinhas, aos povos tradicionais e nações indígenas; à Amazônia colonial, escravidão e abolição na Amazônia, populações de origens africanas na Amazônia; migração, ditadura militar na Amazônia, conflitos sociais, narrativas, memórias e trajetórias de vida constituem preocupações de investigação nessa linha de pesquisa.

Os debates promovidos por diferentes perspectivas, nesta linha de pesquisa, também seguem a dinamicidade das variadas abordagens no campo da história, que se desdobram em diálogos com numerosas interpretações. De tal modo, as reflexões com diferentes abordagens também são tecidas levando em consideração saberes promovidos pelos chamados estudos transdisciplinares, subalternos, pós-coloniais, decolonais.

 

Linha 2 - Ensino de história, narrativas e documentos

A produção historiográfica atual ancora-se em uma pluralidade interpretativa, conceitual e temporal ampla, constituindo múltiplos caminhos para a construção de sua narrativa e suas interpretações. Em se tratando de um programa de pós-graduação com área de concentração em História e Cultura Amazônia, a presente linha de pesquisa promove reflexões que articulem o ensino de História, em suas mais variadas dimensões e as questões concernentes aos desafios da construção da História e de seu ensino na região Norte do país.

As discussões acerca do ensino de história como problema de interesse acadêmico por muito tempo foram delegados como não sendo da competência e do interesse da ciência histórica, conforme ressaltam Klaus Bergman e Jörn Rüsen. Como mostram Marieta de Moraes Ferreira e Renato Franco, no Brasil, o debate em torno do ensino de História nos departamentos e institutos de História por muito tempo não conseguia estabelecer eco. Esse cenário tem demonstrado mudanças, mas ainda o ensino de história figura como tema majoritariamente pesquisado, publicado e alocado nos departamentos de Educação, sejam nos periódicos ou nos grupos de pesquisas vinculados a essa área de conhecimento como mostra Mauro Coelho e Taissa Bichara.

Entendemos que o ensino de história é sim objeto de interesse e relevância da ciência histórica. De tal modo compreendemos que tornar o ensino de história objeto central de problematização da linha de pesquisa, promove a possibilidade de refletir sobre o metier de atuação de uma larga maioria de profissionais que se forma nessa área de conhecimento e tem a docência como campo de atuação.

Três razões justificam a opção por inserir uma linha pesquisa voltada para as questões ligadas ao Ensino. A primeira – sem hierarquia de ordem – por entendermos que as práticas discursivas e não discursivas experienciadas no ensino de história como lugar de saber/poder também se constituem como força concorrencial no processo de construção da Amazônia. Essas relações tecidas no campo do ensino, são práticas que criam, apresentam, inventariam, nomeiam e representam a Amazônia como espaço historicamente construído. A segunda em virtude de ser o ensino – portanto, a docência –, o principal campo de atuação dos profissionais formados na área de História. A terceira, por ser os profissionais ligados à docência, seja da educação básica ou superior, o principal público alvo que demanda a necessidade de formação profissional de alta qualidade na região da Amazônia. Deve-se ainda ressaltar que o programa ofertará disciplinas obrigatórias comuns às duas linhas (além das disciplinas específicas) para atender as necessidades teóricas e metodológicas do campo da História, mas também estará atento para ofertar disciplinas que atendam às demandas e singularidades das problemáticas que nortearão cada linha de pesquisa.

Entendemos que o ensino de História é um lugar de disputa e também um lugar de fronteira como ressalta Ana Maria Monteiro. De tal modo diálogos são costurados com diferentes pesquisadores que têm contribuído com a instituição de lugar fronteiriço. A intercessão com os diálogos possibilitados na área de fronteiras enriquece, sem dúvida, o debate na problematização dos inúmeros objetos de pesquisas que se agregam ao “campo” do ensino de História. No entanto, reconhecer a zona de contato e fronteira não significa abolir as especificidades constituintes do fazer historiográfico. Significa, pois afirmar que os objetos de reflexão problematizados no âmbito do ensino de história também recebem atenção de outros olhares e como tal, podem ser solicitados para ampliar os ângulos de percepção.

Incorporando debates do campo da historiografia que refletem sobre o ensino de história, a aprendizagem histórica e a didática da história (Rüsen), os pesquisadores vinculados a essa linha de pesquisa propõem subsídios e referenciais teóricos e práticos preocupados em problematizar pesquisas nesse campo de estudos e contribuir com o desenvolvimento da região amazônica e em suas interfaces e conexões com outras regiões do país e do mundo.

Os estudos e as reflexões promovidas nessa linha procuram compreender saberes e disputas em torno da produção de narrativas acerca das experiências históricas que configuram o ensino de história. Com dimensão temporal ampla, dada a delimitação temática do ensino e não ao recorte temporal cronológico, objetiva também analisar as concepções de fontes históricas e suas relações com o ensino de História, problematizando diferentes tipos de documentos, seu lugar de produção, sua materialidade e seus usos na relação com o ensino da História.

As pesquisas desenvolvidas nesta linha analisam o ensino de história como lugar de construção de conhecimento, como espaço de produção de saber/poder. A partir dos fundamentos da História como área de referência, estudamos temas diversos problematizando as relações entre diferentes saberes produzidos pela história acadêmica e a história escolar. Constitui objeto de estudo, portanto, a reflexão acerca de como, em diferentes tempos e espaços, a questão da narrativa se fez presente adquirindo diferentes configurações e atendendo às distintas relações de poder no campo do ensino de história. Tais experiências produzem inúmeros vestígios documentais que são problematizados em suas singularidades e nos usos a que se prestam no ensino de história. Questões/problemas como narrativas e materiais didáticos, fontes históricas, patrimônio, história local, diferentes linguagens (imagéticas, sonoras, textuais, corporais), formação docente, currículo, relações de gênero e educação das relações étnico-raciais são tematizados nas pesquisas desenvolvidas nessa linha.

Integrados às dimensões da pluralidade do ensino e de suas distintas vertentes de construção do conhecimento histórico, e ancorados em uma diversidade de fontes históricas, compreendemos a diversidade das experiências dos diferentes sujeitos históricos nos mais distintos espaços. Os debates promovidos por diferentes perspectivas, nesta linha de pesquisa, também seguem a dinamicidade das variadas abordagens no campo da história, que se desdobram em diálogos com variadas interpretações. De tal modo, as reflexões fronteiriças também são tecidas levando em também os saberes promovidos pelos chamados estudos transdisciplinares, subalternos, pós-coloniais, decolonais.

 

Fonte: Texto da APCN

 

Fim do conteúdo da página